Vassoura e rôdo

 Por estes dias me ocorreu sem nenhum motivo,
pelo menos consciente, reler Memorial de Aires,
de Machado de Assis.

Já no primeiro parágrafo que aqui transcrevo,
me levou a uma reflexão interessante, mas antes,
eis o texto de Machado:

"Ora bem, faz hoje um ano que voltei definitivamente
da Europa. O que me lembrou esta data foi, estando a
beber café, o pregão de um vendedor de vassouras e
espanadores: "Vai vassouras! Vai espanadores!"
Costumo ouvi-lo outras manhãs, mas desta vez trouxe-me
à memória o dia do desembarque, quando cheguei aposentado
à minha terra, ao meu Catete, à minha língua.
Era o mesmo que ouvi há um ano, em 1887, e talvez fosse
a mesma boca."

O texto é de 9 de janeiro de 1988 às cinco horas da tarde.

Machado me lembrou que eu também tenho aqui o
meu vendedor de vassouras, rodos e espanadores,
que há décadas percorre o meu bairro a  também
apregoar os seus produtos, em som uníssono e muitas vezes
ininteligível que nos obriga a apurar o ouvido para entender:

"Vassouraerôdo, Vassouraerôdo, vassouaerôdo"...

Já me ocorreu que é uma técnica de vendas desenvolvida
pela experiência para nos obrigar a atenção.

Fiquei a pensar nesta gente humilde que atravessa os séculos
com profissões simples que superam as tecnologias e dispensa
os bancos de escolas, mas que sempre levam o sustento aos
seus lares. São personagens que atravessam a história e compõe
o cotidiano independente de espaço e tempo.

Acho que são abençoadas por Deus...

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